sábado, 24 de outubro de 2009

Os falidos da Lega Pro e a administração arcaica do calcio.


Desde que o campeonato de Serie C assumiu a denominação de Lega Pro, e as antigas séries C1 e C2 foram rebatizadas como 1^ e 2^ Divisione, a categoria registrou nada menos que onze falências societárias apenas nos campeonatos da 1^ Divsione.
No início da temporada 2008-09, foram registradas as falêcias de: Massese, da cidadade de Massa, na Toscana; Lucchese Libertas, da cidade de Lucca, também na Toscana; e Spezia, de La Spezia, na Liguria. Ao longo da temporada, mais duas "baixas": Pescara, de Pescara, cidade do Abruzzo; e Pro Patria, de Busto Arsizio, cidade de Varese, no Piemonte.
Para a temporada 2009-10, o dado negativo já foi superado. Faliram: Pisa, de Pisa, na Toscana; Avellino, de Avelino, na Campania; Venezia, de Venezia, e Treviso, de Treviso, ambas no Veneto; Sambenedettese, de San Benedetto del Tronto, em Pescara, no Abruzzo; e Biellese, de Biella, no Piemonte, recém-promovida da Serie D que não teve recursos para se inscrever na 2^ Divisione.

Por onde andam esses clubes? Confira:

Massese. É, com certeza, o clube que mais sofre desde então. A Massese fez um campeonato de Serie D pavoroso, sem uma vitória sequer, caiu para o campeonato de Eccelleza e teve seu título societário liquidado três vezes, sem comprador, antes de ser definitivamente refundada e inscrita no Eccellenza toscano, campeonato em que participa, por enquanto, com pouco destaque.

Lucchese Libertas. Foi substituída pela Sporting Lucchese, na Serie D, de onde subiu sem problemas. Atualmente, comanda seu grupo na 2^ Divisione e recuperou seu antigo nome.

Spezia. O clube foi refundado sob acionário popular, recomeçando na Serie D, onde conseguiu bons resultados, mas não o acesso. Teve aceito o seu pedido de represcagem na 2^ Divisione e faz um campeonato de bom nível.

Pescara. Foi substituída pela sociedade Pescara Delfino. Não sofreu punições técnicas da Lega pela falência no meio da temporada, embora constasse em regulamento. Neste ano, melhor administrada, é candidata ao acesso à Serie B.

Pro Patria. A exemplo do Pescara, foi substituída por uma outra sociedade, a Aurora Pro Patria, e também não sofreu nenhuma punição técnica da Lega - não só isso, como se reforçou no mercado de janeiro, contratando jogadores pelos quais não poderia pagar, uma autêntica concorrência desleal. Neste ano, partiu mal e está na zona de play outs.

Pisa. Formou-se uma nova sociedade, a Pisa 1909, que foi admitida no campeonato da Serie D. É líder de seu grupo.

Avellino. Formou-se a Avellino Calcio 12, que conseguiu sua inscrição na Serie D com muita dificuldade. Dificuldade que se repete no campo, com campanha irregular que, a continuar assim, não permitirá ao clube mais que a permanência na categoria.

Venezia. Foi criada a Unione Venezia, que também teve dificuldades em se escrever na Serie D. Após um começo irregular, o clube se recupera, em seu grupo, e pode birgar pelos lugares mais altos da classificação.

Treviso. Não teve a mesma sorte de sua companheira veneta, e recomeçou sua vida através da sociedade Treviso2009, que joga no campeonato regional veneto de Eccellenza, por enquanto com pretensões e resultados de média-classificação.

Sambenedettese. Após ser rebaixada para a 2^ Divisione nos play outs, o clube foi substituído pela Sambendettese 2009 e inscrito na campeonato regional Eccellenza marchigiano, onde faz campanha irregular.

Biellese. após um campeonato de Serie D excepcional, o clube não teve recursos para se inscrever na 2^ Divisione, abriu falência, foi refundado e recomeçou sua vida no Eccellenza piemontese.


Em um campeonato no qual os clubes, mesmo os das divisões mais humildes, são constituídos como empresas, e a maioria absoluta das equipes representam suas cidades (ou seja: vivem de torcida e ações regionais), podemos imaginar as dificuldades que tenham para sobreviver. Com essa configuração de ambiente, falências são inevitáveis.

A falência não implica, de nenhuma forma, o final da vida esportiva de um clube. Tal qual ocorre com empresas, é possível uma refundação, e, para ganhar categorias ou sobreviver, os clubes podem se fundir uns com os outros - caso do AlbinoLeffe, na Serie B, união entre os extintos Albino e Leffe - ou adquirir outros clubes (como fez o Venezia, em dada altura de sua história, ao comprar o Mestre, hoje refundado). Há como vimos, inclusive a possibilidade de recuperar a antiga denominação.

O ponto, porém, é todo diverso: a ramificação da FIGC em diversas ligas prejudica a continuidade do movimento divisional entre os clubes. É impossível haver cooperação se, ao invés de uma única entidade à frente do futebol, existem: Lega Serie A, Lega Serie B, Lega Pro e LND (esta última, ainda, dividida em vários comitês regionais).

Dentro do futebol italiano, existem "Itálias" diversas. A Itália da Lega Pro é cruel, pois já recebe clubes de uma, hoje, combalida Lega Serie B, e de outra não menos despreparada Serie D. São clubes que, sem excessão, passam por momentos técnicos lastimáveis; afinal, são 4 entre 22, na Serie B, e 9 entre mais de 100 da Serie D.

A conta é natural: em divisões tão abarrotadas de times, quem é ruim é muito ruim, e quem é bom só precisou ser um pouquinho superior. Some-se isso à natural desvalorização de se jogar um campeonato de Terceira ou Quarta Divisão (excessão feita a quem subiu dos amadores) e, pronto: está servida uma mesa pobre de recursos e farta de necessidades dos clubes, 90 deles.

Falência atrás de falência, que atinge não só a Lega Pro mas as divisões amadoras - afinal, qual o glamour de receber em seu campeonato uma sociedade falida?

Quem teve a idéia de repartir responsabilidade criando sub-organizações esperava uma maior facilidade administrativa. Ao invés disso, estimulou a desvalorização progressiva de todas as categorias abaixo da Serie A. Alguns vão colocar a culpa no futebol moderno, que exige mais dinheiro que desportividade.

O caso, aqui, porém, é falta de administração moderna.

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