sexta-feira, 16 de abril de 2010

ENTREVISTA – CONHEÇA O BOTAFOGUENSE JOÃO ROBERTO

João Roberto, o Zé Fogareiro do GloboEsporte.Com


Salve, amigos do Esquadrão Interativo.


Hoje, é dia de falarmos sobre um dos maiores patrimônios esportivos do Brasil: o Botafogo de Futebol e Regatas.

Celeiro de craques e dono de conquistas que o tempo não apaga, o Botafogo viveu um Campeonato Brasileiro, em 2009, muito aquém do que sua história exige, com uma permanência que foi confirmada apenas na última rodada.

Nada, porém, que pareça abalar a fé do nosso amigo botafoguense João Roberto, o Zé Fogareiro do Blog do Torcedor, do GloboEsporte.com. João é daquele tipo de torcedor que gosta de bons resultados, não há dúvida; mas, tem a certeza que se os números não fossem acompanhados pelo nome do Botafogo, não valeriam de nada.

Então, Zé, puxa essa cadeira, aí, e toma um chopp com a gente, que o papo é de primeiríssima.



Nome: João Roberto Gomes dos Santos, mas para os amigos: Zé Fogareiro.
Idade: 30 anos
Cidade: Niterói-RJ


Você acompanha o Botafogo desde quando?
Nossa! De cara uma pergunta pra lá de difícil. Isso é igual a perguntar: “Você se lembra quando foi a primeira vez que comeu Danoninho?”. Zé, com certeza, o meu sangue Alvinegro pulsa desde meu avô, que foi sócio do Clube, mesmo não tendo condições para tal – e morando longe, em São Gonçalo. A paixão pela Estrela Solitária não se adquire. É algo que te acompanha desde o útero materno. Posso te afirmar que eu vivo Botafogo desde o meu primeiro suspiro.

Você se lembra do primeiro jogo que assistiu, nas arquibancadas do antigo Caio Martins? Qual foi?
Não lembro. Mas meu pai pode te afirmar com certeza que presenciei partidas do Glorioso antes mesmo de ter firmeza para segurar minha própria mamadeira.

Qual a maior emoção que você viveu com o Botafogo?
Sem dúvida nenhuma, a primeira emoção é aquela de ver o seu time maior que todos os outros, num Campeonato. E isso aconteceu no auge dos meus nove anos de idade, quando o Mauro Galvão ergueu aquela taça do Carioca de 89. Ali, desceram minhas primeiras e mais sinceras lágrimas pelo Fogão. Me arrepio até hoje com a lembrança. – Dá licença, posso gritar um pouco, só pra extravasar? FOGOOOOOO!

E a maior decepção?
A decepção (não digo “maior” porque no Fogão decepção não tem tamanho, elas são só decepções e ponto) foi, sem dúvida, ver o time rebaixado. Mas, também, te digo uma coisa: trata-se de uma tristeza rápida e passageira, pois, logo em seguida, a vontade de estar junto com o time nesse momento difícil foi enorme. Como sempre.

Um jogo inesquecível, fora do Rio de Janeiro?
Ah! Aquela final contra o Santos, no Pacaembu. A ida foi muito tensa, por conta de um episódio ocorrido com torcedores santistas, aqui no Rio, no jogo anterior. Não sei se você vai lembrar, mas eles erraram o caminho de volta pra casa e entraram na favela da Vila do João. Teve morte e tudo. Temíamos que eles pudessem fazer alguma “revanche” contra nós, torcedores. Mas até que o jogo foi tranqüilo fora de campo e inesquecível dentro dele. Com o Fogão Campeão, é claro!

E um para se esquecer?
Foi a perda do título pro Juventude, na final da Copa do Brasil de 99. Para os que não sabem, aquele foi o último Maracanã lotado da história, pois logo depois o estádio fechou e recebeu as incríveis cadeiras que encolheram o Maior do Mundo. Eram 120 mil Botafoguenses certos de que comemoraríamos ali, mais um título nacional. E a história nos enganou. Triste. Aquele dia foi triste, de verdade.

Qual seu grande ídolo, entre os muitos craques que jogaram no Botafogo?
Dizer sem medo de errar é perigoso, porque o Botafogo é um dos únicos Clubes que têm uma galeria de craques monstruosa. É como uma imensa sala com todas as Playboys da história: é difícil dizer qual é aquela absoluta. Você sempre fica com um grupo seleto. Mas você perguntou sobre ídolo, e ídolo, muitas vezes, transcende o craque. É por isso que eu vou apontar o Nilton Santos – exemplo de dedicação e amor a uma instituição esportiva. O maior na posição dele e o melhor de todos na personalidade e na dedicação ao Botafogo. Viva, São Nilton Santos.

E um jogador que você desejaria não ter visto?
Ihhhhhh! São muitos. Já tive até, durante um ano inteiro, uma seção de muito sucesso no nosso Blog, chamada “Não quero saber por onde anda”, que listava todas essas amebas que, infelizmente, tiveram a ousadia de colocar a Estrela Solitária no peito. Para não ficar muito vazio, vou apontar um (mas quero que todos os outros não fiquem chateados comigo e saibam: “vocês também moram na minha lata de lixo”): o nosso lembrado e temido Márcio Theodoro, que entregou para os urubus.

Entre um rebaixamento e campanhas de “quase”, o Botafogo viveu uma década de grandes oscilações, no Campeonato Brasileiro. O que se pode esperar do time para o Brasileirão deste ano?
Do Botafogo, esperamos sempre grandes emoções. E é isso o que importa. Sempre dizem que o Botafogo está enfraquecido, que este ano não dá e etc, e tal. O resultado é o Clube em capas de jornais e se mantendo como grande centro de atenções. Esse é o Fogão. Desdenhado por alguns, amado por seus seguidores e, no fundo no fundo, respeitado por todos.

Nos últimos anos, o Botafogo teve possibilidades reais de ser campeão brasileiro, da Copa do Brasil e de, pelo menos, brigar em fases mais avançadas da Sul-Americana. O que faltou para o Botafogo ser campeão fora do Rio de Janeiro?
Para mim, faltaram comandantes com sangue nos olhos. Pilotos que ditassem as regras com garra e força na voz. Tivemos muita galinha morta por lá, que só se chateava depois do caldo derramado. E o pior: às vezes, até chorava. Não que isso seja desmerecedor. Chorar é prova de emoção, de entrega. Mas lutar até o fim é muito melhor. E, nesse aspecto, ficamos pra trás. Faltou um grito forte, os punhos cerrados e a faca entre os dentes pra vencermos os obstáculos. Que não foram poucos.

Em 2004 e 2009, particularmente, o Botafogo teve muitos problemas, no Brasileirão, para escapar do rebaixamento; mas conseguiu, na última rodada de cada temporada. Dá para comparar uma sensação dessas à conquista de um título, ou se comemora mais por alívio que por alegria?
Cada episódio no Botafogo de Futebol e Regatas tem a sua peculiaridade. No Fogão, você não revive a mesma sensação. Você descobre uma nova forma de amar o Clube. E é isso que alucina e entorpece os torcedores. É a capacidade de ir dormir jurando nunca mais voltar no estádio e acordar já procurando comprar o próximo ingresso.

Para você, contra quem é o jogo mais esperado do Botafogo, no Brasileirão?
Neste Brasileirão, o jogo mais aguardado, pra nossa sorte, é logo na primeira rodada. Quero ver como o Glorioso se comporta contra essa molecada abusada do Santos. Os garotos estão jogando demais e, hoje, formam o time a ser batido no país. Espero que o Botafogo acalme o ímpeto da moçada paulista. Vai ser um jogão.

Todos os grandes clubes do Rio de Janeiro são muito populares em todo o Brasil. Comparada a seus rivais, qual a dimensão da torcida do Botafogo?
A torcida do Botafogo, no meu ver, não tem comparação. Se você quer saber de números, pesquise no Google e facilmente verá. Mas se você quer entender de paixão mesmo, vá a uma arquibancada na torcida do Fogão e comprove.

Você valoriza mais a ida ao estádio para festejar um bom momento ou para ajudar num mau momento?
Eu valorizo, sempre, a ida ao estádio. Em qualquer circunstância.

Você faz (ou fez) parte de alguma torcida organizada?
Infelizmente, sim. Digo isso porque fui baterista da antiga TJB (principal organizada do Fogão na década de 90) e vi muita coisa errada. Como todos sabem, ainda falta muita consciência para esses grupos se tornarem sérios. Mas não quero me aprofundar muito nisso, não, porque eu entendo mais é de Botafogo.

As campanhas de associação têm sido importantes recursos dos clubes para arrecadar mais receitas. Isso acontece, satisfatoriamente, no Botafogo?
Com certeza, nos programas anteriores, não tivemos muito sucesso. Por isso, eles estão, constantemente, sendo reinventados. Acabamos de lançar uma nova forma de sócio-torcedor e vamos ver como ela se comporta. Eu tenho várias ressalvas e discordâncias com relação ao modelo, mas temos que ver no que vai dar.

Você se sente à vontade no Engenhão ou te bate uma saudade de Caio Martins?
Sinto-me totalmente em casa, no Niltão – estádio moderno, confortável. Ele ainda carece de muita estrutura, que está esquecida pela atual diretoria, mas acredito que podemos ajustar. Só falta foco, empenho e trabalho. Mas, sem dúvidas, o Caio Martins tem um charme inigualável. Não é porque eu sou de Niterói, não; mas o Fogão conseguiu fazer, ali, um caldeirão inesquecível, fundamental para a gente voltar à 1ª Divisão, por exemplo. Quem não se lembra?

A Copa do Mundo fez despontar, no Brasil, um conceito de gestão de arena esportiva e o Engenhão é um dos estádios mais recentes (e modernos) do país. Você sente que o Botafogo consegue explorar financeiramente o estádio, em relação a eventos e conveniência ao torcedor?
Não só o Botafogo, como qualquer empresa séria e responsável do ramo. O nível de profissionalismo nessa área, hoje em dia, está altíssimo. Temos que (e podemos) fazer muito mais nesse sentido. Me parece que, agora, fechamos um contrato com uma boa empresa especializada. Vamos ver se os resultados serão a contento. É esperar e cobrar.

Atualmente, o Botafogo vive uma escassez de conquistas realmente importantes. Ao mesmo tempo, pode se orgulhar de uma série infinita de craques e grandes conquistas que fizeram do clube o que ele é, hoje. Com sinceridade: você acha que, hoje, o botafoguense está vivendo mais do passado do que com esperanças no futuro?
Não tem jeito, Zé, faz parte da essência de todo bom Alvinegro exaltar e recordar seus antecessores. Mas concordo que isso não forma novas gerações. O Botafogo não fica eternamente relendo seus próprios capítulos. Pontualmente, ele relembra uma ou outra passagem histórica, mas o norte na bússola é o futuro, e até que temos feito isso com certo empenho. Se você parar para analisar, nas últimas cinco finais de Estadual, um dos dois times disputantes era o Glorioso, e isso é importante pra manter a chama acesa. Ganhar, ou não, faz parte do esporte; o que é válido, também, é sempre chegar ao seletíssimo grupo do topo.

Como é ser a voz da torcida botafoguense em um portal de grande audiência, como o globoesporte.com?
É ao mesmo tempo uma enorme responsabilidade e um grandíssimo privilégio. Eu tenho um orgulho que não cabe dentro do peito por conta daquele espaço. Você não imagina a minha satisfação em alimentar o maior fórum de torcedores do Botafogo na internet, auditado pelo Ibope. Isso faz tudo valer à pena. Isso é subir as arquibancadas e ser abordado por gente que nunca viu, te parabenizando pelo trabalho e dizendo que te acompanha. Isso não tem preço.

Há quanto tempo você carrega a bandeira do Botafogo no globoesporte.com? O “Zé Fogareiro” é um personagem que você criou/assumiu apenas para o blog ou já existe a mais tempo?
O “segócio é o neguinte”, Zé. Eu sou redator publicitário por formação e profissão. Minha vida é uma verdadeira sopa de letrinhas. No princípio de 2007, o GloboEsporte.com fez um concurso entre redatores e o melhor texto ganharia o espaço no Blog do Torcedor do Botafogo, no site. Desde então, eu nunca mais parei de levar para o papel, ou melhor, para a tela, todos os jogos e o dia-a-dia do Botafogo de Futebol e Regatas. Pra mim, foi algo inacreditável, pois consegui unir duas das minhas maiores cachaças: escrever e o Fogão. De lá pra cá, o Blog do Zé Fogareiro - um personagem que se confunde com a minha própria identidade - foi ganhando projeções incríveis. O Zé Fogareiro foi batizado na internet, mas já me acompanhava nas andanças pelas arquibancadas. Foi uma forma de marcar mais o espaço, para que o Alvinegro se identificasse com a proposta.

Alguma expressão que você criou no blog já se popularizou entre a torcida (“Fala, Zé”, “pelo amor de São Didi”, “te vejo no Niltão” etc)?
Seria muita pretensão da minha parte dizer que eu emplaquei algum bordão na torcida do Botafogo. Poxa! Abaixa a minha bola aí, Zé! Na verdade, lá no nosso espaço, temos uma linguagem própria, com termos e gírias bem nossas. As pessoas só falam comigo pelo “Fala, Zé!” e acho isso o máximo. É o reconhecimento e uma forma deles mostrarem que eu sou relevante. Só pra você ter uma noção, o nosso Blog hoje tem uma audiência mensal de mais de 310.000 pageviews. Demais, mesmo.

Já aconteceu de pessoas ligadas ao clube protestarem ou tentarem censurar algumas de suas postagens?
Não. Sempre deixei claro pra todo mundo que eu não tenho rabo preso com NINGUÉM. Quando tem que elogiar, eu elogio. Quando tem que meter o pau, eu não meço esforços, também. O meu compromisso é com que lê o Blog. Pode até parecer papo clichê de jornalista (algo que não sou), mas é pura verdade. O grau de comprometimento que eu tenho com os leitores é quase um pacto de sangue. É um pacto de camisa. Sempre deixei claro pra qualquer diretoria que não será enviando uma blusa oficial pra mim que eles terão seus elogios garantidos. Os fatos e aminha opinião regem o Blog do Torcedor do Botafogo.

Além do blog no globoesprote.com, você participa de mais algum tipo de comunidade, fórum ou associação destinada a falar ou ajudar o Botafogo?
Não. Eu apenas tenho meu twitter: @zefogareiro; e meu perfil e comunidade no Orkut, que tem o nome de “Eu leio o Zé Fogareiro”. Quem quiser aparecer por lá, será muito bem-vindo. Pode chegar.

Você já pensou em lançar um livro reunindo suas postagens?
Sim, sim. Tenho esse projeto há um tempo e já venho escrevendo com muita paixão. Mas ainda não pintou nenhuma editora interessada. Quem sabe depois dessa entrevista não pinta um parceiro interessante para o novo projeto.

“Tem coisas que só acontecem com o Botafogo”. Para você, que coisa precisa acontecer urgentemente com o Fogão?
Zé, a solução do Botafogo, infelizmente, não está na contratação do Ronaldinho Gaúcho, do Messi ou do Kaká. Quem nos dera que os nossos problemas se resolvessem com essas canetadas. O Botafogo passa por um momento de transição importante e precisamos nos definir o quão antes possível. A diretoria tem que rever e rediscutir toda a estrutura interna do Clube. Você conhece alguma empresa que tenha orçamento anual de 50 milhões e seja gerida de forma amadora? A profissionalização total é mais do que necessária. Só assim poderemos impor metas e, o mais importante: cobrar por elas.

Uma saudação para nossos leitores:
Foi um prazer estar aqui e a recíproca é verdadeira, lá no nosso Blog. Na verdade, independente de escolha futebolística, eu sonho com o dia em que todas as torcidas vão conviver pacificamente, aceitando brincadeiras e gozações de uma forma infinitamente mais sadia. Sonho com o dia em que o futebol será levado menos a sério, no sentido das diferenças do coração. No dia em que as pessoas vão se respeitar e poder dividir o mesmo espaço, mas com simples camisas de cores distintas. Pensem nisso e o melhor: ponham isso em prática.
Ah! E FOGOOOOOOOOO! Sempre.

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