Na última segunda-feira, dia 22, o Hellas Verona sofreu, mas derrotou o Giulianova, um dos últimos colocados do campeonato de Prima Divisione da Lega Pro (Terceira Divisão do futebol italiano) e manteve sua vantagem na liderança.
O grande assunto após o jogo, porém, aconteceu nas arquibancadas do estádio Marc’Antonio Bentegodi, de Verona: a certa altura da partida, alguns torcedores do clube vêneto (comprovadamente uma minoria) entoaram
Foi o segundo caso de racismo envolvendo os fãs do Hellas Verona, na temporada – o primeiro aconteceu na partida contra o Andria, em que o atacante Sy foi hostilizado – e, desta vez, rendeu uma multa de 10.000 euros à sociedade.
Que o racismo é abominável e deve ser combatido a todo o instante, sabe-se. Que seja uma prática antiga e enraizada nas culturas de algumas sociedades (como, por exemplo, a italiana, que, historicamente, não passou por grandes processos de miscigenação, que não em alguns lugares do Sul), também se sabe.
O grande risco em se citar “racismo” e “Verona” (seja o clube ou a cidade) numa mesma frase, é cair em risco de estereotipagem.
Conforme explicamos em uma intervenção passada (leia aqui), o fato dos clubes italianos serem, em sua maioria, porta-bandeiras de suas cidades, levam à total generalização dos atos de sua torcida como hábitos dos demais cidadãos.
O Hellas Verona luta contra este estigma há anos; um estigma que, digamos a verdade, foi “meritoriamente” adquirido, seja pela descriminação territorial que acontece em solo italiano – conseqüência de uma unificação nacional tardia, quando o futuro país era dividido em reinos – seja por uma “herança” da consciência ultrà de seu antigo grupo de torcedores organizados, as Brigate Gialloblù, que possuíam tendências ideológicas neo-fascistas, nas quais, possivelmente, enquadravam-se as arcaicas leis raciais de Mussolini.
O que se viu, no Bentegodi, foi uma tentativa de mostrar que isso tudo estava no passado. De acordo com o jornalista veronês Vighini, a absoluta maioria da torcida vaiou os coros racistas; também em nosso entendimento, uma clara demonstração que a infeliz manifestação foi isolada e não representava o pensamento dos torcedores – e, muito menos, da sociedade.
Mais do que por qualquer insulto, o Hellas Verona foi punido pelo histórico de sua torcida – e esta punição prevaleceu, inclusive, a duas prisões de torcedores do Giulianova, que haviam atirado uma bomba no campo. Evidente que não é o caso de julgar o que foi mais grave; mas, sim, de compreendermos que, nos jogos em Verona, certas reações do público já são esperadas, para o bem e (no caso) para o mal.
Eis, então, uma ação inesperada. Conscientes dos esforços que o atual mandatário do clube, Giovanni Martinelli, têm feito, os torcedores do Hellas Verona se propõem a pagar a multa.
De acordo com matéria publicada no jornal L’Arena, a iniciativa partiu de Ermanno Zorzi, presidente do Cálcio Club ‘Osteria Vecchia’ di Negrar. A idéia é colocar urnas de arrecadação (dez delas) logo após as catracas de acesso do estádio Bentegodi, no lado de dentro do estádio. A oferta seria livre, podendo qualquer torcedor doar o quanto desejar.
A conta é simples: considerando sua média de aproximadamente 13.000 torcedores por jogo, a torcida do Hellas Verona pagaria amplamente a multa se, a cada torcedor, fosse doado um euro.
Já existe, inclusive, um grupo de apoio à idéia, no Facebook, mas a iniciativa ainda carece de aprovação do clube.
Um esforço importante, na tentativa de encerrar o assunto – e a má fama.
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